Mortalidade materna: o Brasil cumprirá a meta da ONU até 2030?

mãe segurando bebê após parto
Crédito: Rodrigo Nunes/Ministério da Saúde

A morte materna é aquela que ocorre durante a gravidez ou no período de 42 dias após o parto. Receber cuidados adequados para uma gestação sem riscos para a mãe e o bebê é um direito de todas as mulheres. No entanto, permanece um desafio global de saúde pública. 

Não à toa, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) contemplam uma meta dedicada a essa questão: até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100 mil nascidos vivos. Mas em que ponto dessa jornada estamos no Brasil e quais foram os altos e baixos nas últimas décadas? Informe-se abaixo.

Mortalidade materna dentro da meta, mas desigual no país

A razão de mortalidade materna no Brasil foi de 54,5 a cada 100 mil nascidos vivos em 2022, de acordo com os dados mais recentes do SIM-DATASUS, consultados no Observatório da APS. Ou seja, dentro do objetivo estabelecido pela ONU. No entanto, o número ainda representa 1.397 óbitos, valor que deveria ser muito menor – nove em cada dez mortes maternas seriam evitáveis com a implementação de medidas e recomendações eficazes, como defende a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), parceira da campanha “Zero Mortes Maternas. Evitando o Evitável”.

A visão geral do todo também pode esconder disparidades preocupantes de Norte a Sul do país. Afinal, além de uma questão de saúde pública, a mortalidade materna é impactada por diferentes Determinantes Sociais de Saúde (DSS), em especial fatores sociais, econômicos e étnicos/raciais.

Dessa forma, considerando apenas o recorte das capitais brasileiras, a taxa pode variar de 16,3 mortes a cada 100 mil nascidos vivos em Curitiba (PR) até 165,8 em Boa Vista (RR), ainda conforme informações do SIM-DATASUS. Um ano antes, em 2021, o estado de Roraima registrou uma razão de 259 mortes a cada 100 mil, liderando o ranking nacional.

Mortalidade materna nas capitais brasileiras em 2022:

MunicípioTaxa a cada 100 mil nascidos vivos
Boa Vista (RR)165,8
Palmas (TO)104,9
Aracaju (SE)96,4
São Luís (MA)80,3
Rio de Janeiro (RJ)76,9
Natal (RN)73,3
Manaus (AM)66,2
Salvador (BA)66,2
Belém (PA)63,0
Goiânia (GO)58,8
Rio Branco (AC)56,0
Macapá (AP)50,2
Florianópolis (SC)49,3
Campo Grande (MS)48,6
Teresina (PI)43,2
Cuiabá (MT)41,9
Porto Velho (RO)40,7
Maceió (AL)38,3
Brasília (DF)36,1
Recife (PE)34,7
São Paulo (SP)34,0
Belo Horizonte (MG)29,4
João Pessoa (PB)27,9
Fortaleza (CE)26,9
Vitória (ES)25,8
Porto Alegre (RS)21,9
Curitiba (PR)16,3
Fonte: SIM-DATASUS, disponível no Observatório da APS

Ou seja, das 26 capitais brasileiras mais o Distrito Federal, seis ainda não atendem a meta do ODS da ONU: além de Boa Vista, Palmas (TO), Aracaju (SE), São Luís (MA), Rio de Janeiro (RJ) e Natal (RN).

A variação nas últimas décadas e o efeito da pandemia

É importante reconhecer que o indicador de mortalidade materna no país avançou ao longo das últimas décadas. Em 1990, a razão foi de 120 óbitos por 100 mil nascidos vivos, segundo dados que constam em relatório da OMS. Essas são algumas das principais medidas para reduzir mortes e garantir que as gestantes tenham acesso a cuidados de saúde adequados:

  1. Expansão da cobertura de saúde, especialmente em áreas rurais e remotas;
  2. Fortalecimento da atenção pré-natal, incentivando o início precoce do atendimento e o acompanhamento regular para identificar e tratar complicações que possam surgir durante a gravidez;
  3. Investimento em educação e conscientização sobre saúde materna e reprodutiva;
  4. Treinamento de profissionais de saúde para capacitação em cuidados pré-natal, parto e pós-parto, incluindo a identificação e o manejo de complicações obstétricas;
  5. Redução das desigualdades sociais e econômicas que impactam o acesso à informação e aos serviços de saúde.
  6. Além das medidas acima, é fundamental contar com planos de ação para emergências de saúde, como foi o caso da pandemia, que teve um impacto expressivo no número de mortes maternas no Brasil. Nos dois primeiros anos, 5.043 gestantes perderam a vida – e, em 2021, a taxa de mortalidade subiu para 114,2, um retrocesso de décadas. Os dados são do SIM-DATASUS.
Gráfico de taxa de mortalidade materna no Brasil
Fonte: SIM-DATASUS, disponível no Observatório da APS

Vários programas têm sido implementados ao nível federal, estadual e municipal para cuidar da saúde das gestantes. Embora tenha ocorrido redução nas taxas de mortalidade materna no Brasil, o cenário é desigual entre as diferentes regiões do país e nas capitais e municípios com menos recursos, além de outros recortes étnicos e sociais.

Nos próximos seis anos, até 2030, é necessário avançar em políticas públicas sociais e de saúde que cuidem da saúde materna na totalidade, também considerando as particularidades de cada grupo e região. Assim, contribuindo para que o país todo atinja as metas propostas pela ONU e, logo, proporcione uma melhor qualidade de vida a todas as cidadãs e a todos os cidadãos do mundo.