Diabetes e hipertensão em Salvador, a cidade com maior população negra fora da África

Crédito: ASCOM/Secretaria Municipal da Saúde de Salvador

Dados do Censo de 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram Salvador como a cidade de maior percentual de pessoas negras do Brasil, com 49,1% dos entrevistados se declarando pardos, enquanto 34,1% se identificaram como pretos. Em números absolutos, são mais de dois milhões de pessoas negras na capital baiana. Esses índices também fazem de Salvador a cidade com a maior população negra fora da África.

Indicadores da pesquisa Covitel 2023 disponíveis no Observatório da APS mostram que 58,7% da população negra brasileira avalia a própria saúde como boa. De acordo com o Boletim Temático da Biblioteca do Ministério da Saúde, causas multifatoriais como disposição genética, fatores sociais e ambientais tornam algumas doenças mais prevalentes entre as pessoas negras. Entre elas, hipertensão arterial e diabetes tipo 2.

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A prevalência de ambas é expressiva no Brasil. Por isso, apresentamos abaixo os principais indicadores para apoiar uma visão de como pressão alta e diabetes impactam a vida e a saúde soteropolitana.

Hipertensão e diabetes na cidade de Salvador

Os dados do Vigitel disponibilizados pelo Observatório da APS mostram que a prevalência da hipertensão em Salvador chegou a 29,4% dos soteropolitanos em 2023. Destes, 10,9% são homens e 18,5% são mulheres. 

Em números absolutos, são 234.804 pessoas do sexo masculino diagnosticadas com hipertensão e 398.331 do sexo feminino. Quando fazemos o recorte étnico-racial, 29,9% das pessoas pretas e 30% das pessoas pardas têm diagnóstico de hipertensão. 

As doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por 4.132 óbitos em Salvador em 2022, segundo o SIM-DATASUS, uma taxa de mortalidade equivalente a 149 por 100 mil habitantes. Destes óbitos, quase metade (45,8%) diz respeito a pessoas pardas, seguidas de pretas (25,7%). 

gráfico sobre óbitos em Salvador

A prevalência da diabetes em Salvador aferida pela pesquisa Vigitel 2023 indica que 9% dos soteropolitanos foram diagnosticados com a doença. São 194.399 pessoas, sendo 62.303 homens e 132.096 mulheres. O recorte étnico-racial mostra que 9,5% dos pretos e 8,2% dos pardos têm diagnóstico de diabetes.

Quando olhamos para a taxa de mortalidade, em Salvador são 31,9 óbitos por 100 mil habitantes. Das 884 mortes reportadas em 2022 decorrentes diretamente da diabetes, 43,7% eram homens e 56,3% mulheres, isto é, 386 pessoas do sexo masculino e 498 do sexo feminino. 

Políticas públicas de combate a diabetes e hipertensão

Diminuir a prevalência da hipertensão e diabetes entre a população é fundamental para garantir qualidade de vida e uso eficiente dos recursos públicos da saúde, sendo crucial o investimento em campanhas de conscientização e prevenção a essas doenças.

Iniciativas de fácil implementação, como a promoção de hábitos saudáveis e incentivo à prática de atividades físicas, devem constar das agendas de governos no âmbito municipal, estadual e federal. 

O diagnóstico precoce é uma das mais eficazes ferramentas no combate a hipertensão e diabetes. Programas de rastreamento e acompanhamento de casos podem nortear o poder público na alocação desses recursos, além de ajudar na identificação de áreas com maior vulnerabilidade às doenças.

O rastreamento de caso pode, ainda, identificar disparidades na distribuição dos recursos fomentadas por desigualdades sociais ou étnico-raciais, fomentando a criação de políticas públicas que promovam a inclusão e empoderamento dessas populações excluídas. 

Outro tema que deve constar das agendas governamentais é a ampliação da oferta e acesso aos serviços públicos de saúde, especialmente para as regiões periféricas das grandes cidades. A capacitação e criação de condições de trabalho adequadas para os profissionais de saúde é fundamental para o atendimento eficaz e digno da população.

A possibilidade do uso de unidades móveis de saúde para o atendimento de populações periféricas não deve ser descartada. Elas não substituem uma unidade hospitalar, mas oferecem diferentes serviços para prevenção, diagnóstico e monitoramento de casos.

Diferentes iniciativas podem ser elencadas para diminuir a incidência da hipertensão e diabetes entre a população. Essas são apenas algumas que podem ser implementadas pelo poder público e autoridades de saúde. Além delas, diversas outras estão à disposição de governos e gestores públicos. É hora debatê-las com a sociedade e colocá-las em prática a favor do bem-estar da população.