Atenção Primária à Saúde poderia evitar 3 milhões de internações no Brasil em um ano

Paciente de idade, sentada olhando para uma enfermeira. Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde é o primeiro ponto de contato entre a população e o serviço de saúde. Também conhecida pela sigla APS, a prática inclui cuidados voltados à promoção, prevenção e recuperação da saúde. Por isso, é capaz de atender de 80% a 90% das necessidades de saúde do indivíduo ao longo da vida, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A APS é considerada um componente-chave do sistema médico por promover uma mudança no relacionamento das comunidades com os cuidados com a saúde. Dessa forma, tem papel fundamental em organizar o fluxo de pacientes, ajudar a melhorar os resultados e reduzir gastos.

Em 2021, ocorreram 3.080.994 internações em todos os municípios do país por condições sensíveis à APS, segundo dados do SIH/DATASUS disponíveis no Observatório da APS. Este indicador representa hospitalizações por doenças que dizem respeito à atenção primária e cujo risco pode ser diminuído com atendimento adequado no primeiro nível de atenção. 

Com uma APS fortalecida, o número de internações evitáveis no Brasil pode diminuir muito. Afinal, olhar para a Atenção Primária à Saúde a fundo ajuda a cuidar do futuro da população. Abaixo, abordamos mais dados sobre as internações, além das características da APS

O que é Atenção Primária à Saúde?

Como explicamos, a APS é o ponto inicial de contato entre a comunidade e os profissionais de saúde. 

O atendimento é realizado por equipes multiprofissionais ou médicos da família. Entre as principais atribuições estão: exames de rotina, cuidados preventivos, diagnóstico, tratamento e reabilitação de condições médicas comuns. 

Outra característica essencial da APS é cuidar das pessoas integralmente, não apenas no caso de uma doença específica ou ocasional. Isso inclui fornecer informações que promovam conhecimento e dêem autonomia aos indivíduos para tomarem decisões relacionadas à própria saúde.

A diferença entre atenção primária, secundária e terciária é que as duas últimas dizem respeito à atenção especializada, de média e alta complexidade, respectivamente. Assim, sempre que necessário, a APS atua como um ponto central para coordenar os cuidados com especialistas de outras áreas médicas.

Os quatro atributos da Atenção Primária à Saúde

Barbara Starfield, pediatra e mestre em saúde pública norte-americana, definiu os quatro elementos estruturais da APS. A padronização garante que o conceito e os objetivos da prática permaneçam os mesmos, em qualquer lugar do mundo, para atender os principais problemas de saúde da população.

São considerados atributos da Atenção Primária à Saúde:

  1. Atenção ao primeiro contato
    Como a porta de entrada do sistema de saúde, a APS precisa ser acessível, disponível e resolutiva, desde o primeiro contato.
  2. Longitudinalidade
    Independente da existência de uma condição de saúde, o cuidado contínuo reduz a necessidade de encaminhamento para especialistas e previne problemas futuros.
  3. Integralidade
    Aptidão para lidar com qualquer necessidade trazida pelo paciente. Promover acolhimento e criar vínculos com o indivíduo, considerando as necessidades específicas e subjetivas de cada um.
  4. Coordenação
    Articulação para oferecer ao paciente o conjunto completo de cuidados e de informações que necessita, de maneira integrada por meio dos diferentes agentes e níveis de atenção da rede de saúde.

Internações por condições sensíveis à APS

Os dados mais recentes do SIH/DATASUS, de 2021, apontaram mais de 3 milhões de internações por condições que dizem respeito à Atenção Primária, em todos os municípios do Brasil. O número equivale a uma taxa de 1.444,3 internações por 100 mil habitantes.

Alguns exemplos das causas são: doenças cardíacas e pulmonares, deficiências nutricionais ou doenças relacionadas ao pré-natal e parto. 

A população mais velha foi a mais impactada: 1.134.206 internações de pacientes acima de 65 anos e 465.460 entre 55 a 64 anos. Do outro lado da pirâmide etária, bebês e crianças até 4 anos representam a terceira faixa etária com maior número de internações: 360.108.

Ranking: total de internações nas capitais brasileiras

São Paulo (SP), a cidade mais populosa do Brasil, lidera o total de internações por doenças sensíveis à APS. Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG) completam as cinco primeiras posições.

PosiçãoMunicípioNúmero de internaçõesTaxa a cada 100 mil hab.
São Paulo (SP)138.8201.119,8
Rio de Janeiro (RJ)46.338683,9
Brasília (DF)46.1461.491,3
Fortaleza (CE)38.0521.407,6
Belo Horizonte (MG) 37.6261.486,8
Porto Alegre (RS)31.3842.102,7
Manaus (AM)30.8461.367,3
Recife (PE)29.7821.793
Salvador (BA)28.392978,9
10ºCuritiba (PR)25.7021.308,8
11ºBelém (PA)19.5641.298,7
12ºGoiânia (GO)15.6261.004,5
13ºTeresina (PI)13.2021.515,5
14ºMaceió (AL)11.1901.084,7
15ºJoão Pessoa (PB)10.4801.269,1
16ºSão Luís (MA)10.384930,5
17ºCampo Grande (MS)10.1121.103,9
18ºNatal (RN)9.3741.045,4
19ºBoa Vista (RR)8.8702.031,6
20ºPorto Velho (RO)8.2161.496,7
21ºFlorianópolis (SC)5.8401.130,6
22ºMacapá (AP)4.888935,8
23ºAracaju (SE)4.762708
24ºVitória (ES) 3.510949,8
25ºRio Branco (AC)3.308788,6
26ºCuiabá (MT)3.220516,3
27ºPalmas (TO)2.632840

Na capital paulista, houve 138.820 hospitalizações em 2021 – uma taxa de 1.119,8 a cada 100 mil habitantes. No entanto, considerando a mesma taxa, Porto Alegre (RS) registrou 2.102,7 internações a cada 100 mil habitantes. O município é seguido de perto por Boa Vista (RR), com 2.031,6.

Do outro lado da tabela, Palmas teve o menor total de hospitalizações em 2021: 2.632. Logo depois vem Cuiabá (MT), com o total de 3.220 e a menor taxa por 100 mil habitantes entre as capitais brasileiras, 516,3.

O recorte por municípios pode ser consultado na íntegra no Observatório da APS.

A abrangência e a qualidade da Atenção Primária à Saúde têm impacto direto na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida da população, hoje e no futuro.

É por isso que a quantificação, o monitoramento e a avaliação das condições são fundamentais para as políticas públicas propostas para melhorar a situação atual da saúde. Visite a plataforma do Observatório da APS para acessar um banco de dados completo e simples de navegar sobre o assunto.